Corria. Estava correndo a horas, talvez dias, semanas... Ele
mesmo não poderia dizer com exatidão quanto tempo, quem sabe sua corrida
durasse anos... O ar faltava, estava ofegante. Braços, costas e rosto suavam
incessantemente. Quando por algum motivo ameaçava parar, ou simplesmente
reduzir a velocidade, seu coração comprimia-se, como se alguma mão oculta
estivesse a aperta-lo. A respiração ficava mais pesada, uma terrível angústia
tomava-lhe a alma, sentia imensa vontade de gritar, de berrar a todo peito - tal
qual o condenado que já não suporta o cárcere. Não é que sentisse melhor ao
correr, mas esse ato, como que anestesiava sua dor. No caminho estreito que
percorria não havia árvores. Não havia sombra. Não havia ninguém, somente um
sol mau, do tipo que só se viu na Argélia, ardia ao longe. Não sabia que lugar
era aquele, ou que caminhos até lá o conduziram e não saberia encontrar uma
estrada que desse em algum lugar. Paulo, pois esse era o nome do rapaz
(ou ao menos, o nome que condenaram-no a carregar quando criança) avistou de
súbito, em sua frente, uma imensa floresta negra (talvez fossem arbustos). Pela
primeira vez, sentiu algo novo... algo que não fosse cansaço... seu corpo todo
tornara-se leve. Atirou-se, junto de suas últimas esperanças. E lá, segundo
contam, se afogou, gritando antes: "Liberdade,Liberdade!"
Rômulo Costa, Taguatinga, 5 de Junho de 2012
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