Crime e Castigo, Notas do Subsolo, Irmãos Karamázov – obras escritas sob a febre de um gênio perturbado ou síntese magistral das questões de uma época? A resposta é dispensável pela evidência da própria pergunta. Aquela primeira concepção sobre a obra de Dostoiévski prevaleceu durante muito tempo na mente de críticos europeus e americanos, talvez por uma leitura apressada e descontextualizada ou pela precariedade das muitas traduções existentes, pode ser, como pode não ser. Um fato é que Fiódor Mikhailovich Dostoievski, como todos os maiores escritores da história humana, foi, muitas vezes, mal-interpretado.
Uma Biblioteca de Alexandria não suportaria tudo o que foi escrito sobre o autor russo. No entanto, na minha mente exagerada, tudo o que foi escrito poderia ser substituído pelos cinco volumes do estudo (biográfico) que Joseph Frank *, um professor americano da Universidade de Stanford, escreveu durante mais de uma década. Dois assuntos relevantes são tratados logo no primeiro volume: o assassinato de Mikhail Dostoiévski, pai do autor, e o célebre artigo de Sigmund Freud: Dostoiévski e o Parricídio. Ambos são completamente desmistificados.
Aliás, dois fatos são importantíssimos na biografia de Dostoiévski: a morte do pai e a prisão na Sibéria em 1849. O primeiro, em certo sentido, impulsionou sua criação artística, o segundo, a transformou completamente.
Dostoievski é um clássico pois, ao mesmo tempo que trata de questões atuais de um tempo remoto (as questões da Russia e do povo russo do século XIX) trata das questões mais universais e atemporais. Um investigador que suportou as visões infernais do sofrimento humano.
Rômulo Costa.
Rômulo Costa.
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[ Sobre a obra de Joseph Frank, sugiro a leitura do interessantíssimo artigo de Manuel da Costa Pinto intitulado A Consagração do Profeta. No Brasil a obra foi publicada pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) e, infelizmente, alguns volumes já se encontram fora de catálogo. ]
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