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Uma reflexão acerca das redes sociais e da privacidade

Quando era aluno do ensino médio, fiz uma redação sobre o tema da exposição da vida particular na internet. Na época, não tinha a mesma relação que tenho hoje com as redes sociais – o facebook, especialmente – e também não tinha parado para refletir mais a fundo sobre o assunto. Passado mais de um ano, retorno agora a esse tema por meio desta postagem.
Tenho observado, como usuário de redes sociais, uma exposição crescente da vida particular das pessoas na internet. Essa exposição não se restringe ao compartilhamento de gostos e interesses dos usuários com seus contatos, mas assume proporções muito maiores, interferindo até mesmo nos acontecimentos da vida privada que muito dificilmente seriam expostos nos sites de relacionamento. Parece que tudo – ou pelo menos quase tudo – o que acontece com o usuário da rede social, no âmbito de sua vida privada, rende uma postagem. Alguns de vocês hão de lembrar um fato ocorrido recentemente nas redes sociais, o de uma garotinha que postou uma foto com o cadáver de seu cachorro nos braços, em lágrimas. A garota escreveu na descrição da foto o quanto estava triste com a morte de sua mascote. Não demorou muito até sua postagem ser compartilhada em diversos sites e muitas pessoas fazerem piadas com a tragédia da menina.
Chamo a atenção aqui à excessiva exposição na rede, a um ponto em que as pessoas chegam a perder – ou próximo a isso – sua privacidade. Ora, alguns irão argumentar que a garota escolheu compartilhar a foto e, portanto, tinha em mente que poderia ter sua privacidade violada. No entanto, ela não podia imaginar que sua postagem seria compartilhada e visualizada por mais de 600 pessoas¹. Uso aqui a definição de dicionário para “privacidade”, ou seja, “a habilidade de uma pessoa em controlar a exposição e a disponibilidade de informações acerca de si”. A garota perdeu o controle que supostamente tinha sobre aquilo que diz respeito a ela e, consequência disso, sua imagem jamais sairá da web.
O caso da garotinha e seu cachorro é muito bom para ilustrar o que estou falando, mas acho que não suficiente. Recorro então aos diversos casos de fotos vazadas de artistas nus. As fotos possuíam destinatários, mas, por descuido dos remetentes ou quaisquer outros motivos, foram parar onde não deviam. A perda de controle, então, parece-me evidente.
Ademais, isso tudo parece apontar para uma mudança de comportamento das pessoas frente às redes sociais, estas que cresceram absurdamente desde o seu surgimento. Os casos de fotos vazadas, é claro, demonstram apenas a falta de controle, a perda da privacidade. Mas o que quero colocar aqui é que as pessoas estão criando para si uma espécie de “audiência” e agindo como que para entretê-la. Basta olhar para o que se produz de vídeos no youtube: pessoas anônimas agem como se possuíssem um grande e fiel público, submetendo-se – e por vezes pessoas do seu âmbito social – a situações constrangedoras². Parece que há uma busca por “curtidas”, “favoritos”, etc. Então, a mudança do comportamento causada pelas redes sociais impacta negativamente a privacidade dos seus usuários. Uma vez que algo é lançado na web e alcança uma grande visibilidade, muito dificilmente pode essa coisa ser removida ou ocultada.
Amigos/as, colegas, contatos das minhas redes sociais, eu já não tenho mais o controle sobre este texto que publiquei aqui, os/as senhores/as podem copiá-lo e atribuí-lo a mim ou a qualquer outra pessoa, tirar print e compartilhar e, mesmo se eu deletar este blog, podem consultar o web archive. Então, talvez não faça sentido eu apagar minhas postagens antigas neste blog, talvez seja bom mantê-las para que se possa notar a evolução que, acredito eu, se operou na qualidade dos textos. Enfim, espero que tenham apreciado a postagem e não se esqueçam de comentar para fomentarmos esse debate.

NOTAS
1 – Considerei que a garota tinha uma quantidade de assinantes inferior a 600 e que seus seguidores e amigos somados não resultariam nesse número. Ademais, a foto teve muito mais que 600 compartilhamentos, chegou, creio eu, perto dos cem mil (talvez até mais que isso), mas o print tirado da postagem e divulgado em diversos sites ainda marcava 672 retweets.  

2 – Acredito que esse tipo de comportamento, com relação aos vídeos, se deva pelo fato de que muitos anônimos ganham uma gigantesca visibilidade com vídeos aleatórios, que mostram alguma situação engraçada ou coisa do tipo. Tais vídeos são geralmente “descobertos” por sites e blogs de humor, que os viralizam. 

Renan Almeida, 8/7/2013 às 2h35.

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